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MARCOS MARKIAN

I. Sobre o autor




II. Suas Obras




As razões de Mário

Mário olhou fixamente para o céu, algumas estrelas, solitárias como ele formavam um colar, um pequeno colar de poucas contas.

Lembrou-se de Júlia, de sua paixão por ela e de que nada fizera para que ficasse, mas, apesar de amá-la, não queria que ela se sacrificasse por ele, a amava muito para exigir tanto, Júlia havia descoberto sua doença, por isso mesmo, precisava que ela se afastasse, para que não se contaminasse com o seu mau-humor, seu desinteresse pela vida. Júlia tinha sonhos, e ele não queria que deixasse de sonhar por causa dele, vivendo tristemente ao lado de um homem doente, contando os dias, esperando a morte.

Queria que Julia guardasse uma lembrança alegre, lembrasse dos encontros às escondidas que tinham que planejar para que o pai dela nunca descobrisse, era muito divertido, romântico, o último encontro foi em uma praia, Julia havia anunciado aos pais que viajaria com algumas amigas de faculdade para festejar algo, só que não existiam as amigas, somente ele, Mário, que era a razão de sua vida, seu desejo maior.

Sabia que precisava afastá-la para sempre, talvez se dissesse a ela que não a amava mais, mas, ela não acreditaria, um grande amor não se acaba assim de um momento para outro.

Precisava encontrar um jeito de fazê-la acreditar em algo, algo forte de mais para que ela própria sentisse vontade de ir para bem longe, distante dele e do seu mundo.

Existia no seu passado um relacionamento, antes de Julia, Mário conhecera Odete, que para tentar prênde-lo havia inventado uma falsa gravidez, Júlia sabia de Odete, sabia o quanto os dois se amaram, só não sabia deste suposto filho, pronto, era só contar para ela que havia descoberto que Odete tinha tido um filho seu, que cuidava dele, e que agora, depois de seis anos, ele, Mário sentia muita vontade de conhecer e de cuidar, queria ser pai, isto nunca negara, embora Julia não pudesse lhe dá filhos, , mas, como a amava, ia aceitando, quem sabe se um dia Julia não poderia aceitar a idéia de adoção.

Ensaiou as palavras, combinou com os gestos, daria a noticia a Julia naquela noite mesmo, talvez desta maneira ela sentisse raiva e o deixasse, se sentiria ferida, trocada por outra.

Julia chegou toda radiosa, tinha uma boa noticia para lhe dar, uma noticia que iria fazê-lo muito feliz, estava disposta a dar-lhe um filho, como não podia engravidar, adotariam um.

Mário sentiu um tremor nas pernas, uma sensação de agonia, precisava urgentemente executar o plano que havia pensado.

-J ulia, você lembra da Odete?

- Sim, sua antiga paixão ( falou abraçando-o por trás)

- Ela me procurou, disse que tem um filho meu, o menino já tem seis anos, ela escondeu de mim que eu era pai durante todo este tempo, mais quis me dá essa felicidade agora, quando soube que eu estou muito doente e que vou morrer.

- Ela escondeu de você que você era pai por seis anos e você ache tão naturalmente...

- Isso já não importa, importa que tenho um filho, sou pai de um menino e quero estar ao lado dele o tempo que ainda me resta.

- Isto significa o quê?

- Significa que temos que acabar o nosso relacionamento, eu vou morar com a Odete, no interior do estado, vai ser melhor, vou poder acompanhar o crescimento do meu filho, até o dia que Deus me chamar para junto dele.

- E eu? O que faço deste amor, como vou viver sem você ao meu lado, vou morrer...

- Não! Você vai viver, vai realizar o seu sonho de ser uma grande advogada, vai fazer isto por você e por mim.

- Mário, porque? Você me afasta da sua vida, como se eu não representasse nada, ou você nunca me amou?

- Te amei e te amo, só que neste momento, tenho que pensar em você e no nosso filho, ele precisa de mim, do pai ao seu lado e eu preciso ser pai, sentir o amor de uma criança, você nunca poderia me dá filhos, eu nunca lhe disse, mas, isso sempre me deixou muito triste, a impossibilidade de ter um filho, mesmo que por adoção.

- Mário, é isso que eu queria lhe falar, que a gente poderia adotar uma criança e sermos felizes...

- Não, eu já tenho um filho( Mário sentia por cada palavra que estava dizendo, contudo, precisava ser duro) eu preciso que você aceite o fato.

- Mais como eu posso aceitar de perder, se você é a coisa mais bela que me aconteceu, você é meu amor, minha paixão, através de você eu passei a enxergar as belezas da vida, não por favor não me deixe.( Fala ajoelhando-se)

- Pare, viva a vida que Deus lhe dá, eu não tenho muito para oferecer, talvez uns míseros anos ou meses de vida, sempre correndo de hospital a hospital, não quero essa vida para você, quero você plena, feliz ao lado de um bom marido, realizada em suas conquistas.

- Sem você minha vida acaba, eu não consigo viver sem tê-lo ao meu lado.

- Perceba, meu amor, é necessário que as coisas sejam deste jeito, guarde esta minha imagem, quando ainda tenho saúde e posso te dá carinho.

Mário abre a porta do apartamento, olha o corredor largo e sorrir.

- Vê, como esse corredor é longo, como a sua vida, a minha é estreita, escada de poucos lances.Viva, por favor, viva, viva o tempo que eu não posso mais viver.

Julia fecha a porta e o abraça.

Os dois se beijam e lá fora, a luz das estrelas ilumina a noite.